segunda-feira, 16 de agosto de 2010

CONTO - ISADORA E SOPHY (2º capitulo)


...(continuação)

Como esperado, Isadora chegou 'em paz' a Santa Catarina. A viagem tinha sido tranquila e ela conseguiu ligar pra Sophy assim que chegou na casa da sua avó. Aquela temporada pra elas foi uma das mais difíceis; eram dois meses, sessenta dias sem poderem se falar quando queriam. Isadora não estava bem lá e Sophy não estava bem aqui; era como se estivessem mortas e tivessem vida apenas quando conseguiam se falar, mesmo por alguns minutos. As datas comemorativas passaram.. no Natal, nada mais do que uma mensagem de texto. Reveillon, nem mensagem... O pior final de ano para as duas, definitivamente. Sophy chorava, mas calada, quando já estava no quarto e não podia fazer barulho para que não acordassem. Doía, ardia. Sophy não queria estar ali com aquelas pessoas, o incício de um ano novo, um novo tempo, em que tinha esperanças de que tudo ficasse bem. Ela precisava de sua menina, da sua felicidade. Isadora permaneceu sozinha naquela noite de mudança, calada, olhando pro nada, sentindo o vento, o frio. Só queria ter ali a voz daquela que lhe trazia felicidade.Os dias foram se passando e finalmente os dois horríveis meses se acabaram. Isadora estava de volta, no dia 2 de fevereiro de 2010, em casa, sozinha com seu pai. Ela não podia sair, mas tinha por obrigação ir à faculdade, onde todos os seus amigos iam ao seu encontro. Como as aulas de Sophy só começariam na outra semana, elas ainda não haviam se visto. Como era estranho, ter abraçado todos, matado a saudade.. menos ela! Agora se falavam mais, pois o pai de Isadora trabalhava durante a manhã e ela ficava sozinha. Mas ligações não eram suficientes, pensar que estavam tão perto, mas ainda não tinham se abraçado, se tocado! Por ironia do destino, talvez, a vizinha e amiga da família de Isadora comentou que ia à capital no final de semana e peguntou se a garota não queria acompanhá-la.Isadora ficou na dúvida, disse que depois falaria com o pai. Mas ao falar com Sophy, descobrindo que ela também estaria lá, resolveu aceitar no mesmo instante.Sábado, então, estavam as duas no Rio de Janeiro. Era carnaval e alguns blocos desfilariam na rua, lugar perfeito para se encontrarem. O tio de Sophy não desconfiaria quando ela se ausentasse para encontrar sua pequena. Ela chegou primeiro, por volta das 11 horas e esperaria o dia todo se fosse preciso. Isadora dependia da carona de sua vizinha que, por sorte, estava do lado das duas.Sophy estava cada segundo mais nervosa, não aguentava mais aquela espera, a barriga congelava, tinha arrepios do nada.. e então Isadora ligou "Amor, tô aqui na avenida, onde você tá?"O coração dispara, a respiração acelera, o estômago congela e Sophy responde "Estou na frente da barraca Pedra Virada, meu amor, você tá longe daqui?".Depois de um rápido "Não, amor, eu já chego!" Isadora desligou o telefone e apressou o passo com sua vizinha, perguntando a todos onde ficava a tal barraca. Chegando lá, Isadora ligou de novo "Amor, eu tô aqui, na calçada do hotel da esquina, do lado oposto ao Pedra Virada. Tô vendo a barraca, de frente pra ela". Sophy gritou "Calma, amor, eu tô indo! Hotel da esquina, hotel da esquina... Cadê?!". De repente as duas se viram ao mesmo tempo. Sem nem pensar no que estavam fazendo, empurraram os celulares no bolso e correram ao encontro da outra. Se abraçaram e permanceram assim por alguns minutos. Ninguém nunca conseguirá explicar o que sentiram quando se tocaram, quando se sentiram novamente, depois de todo aquele inferno, de todo aquele tempo. Os corpos tremiam no compasso dos coraçõea acelerados que pareciam querer saltar de dentro das duas. Felicidade, dúvida, medo, certeza, alívio, esperança... todos os sentimentos possíveis ao mesmo tempo! Soltaram-se então, precisavam falar com Luíza, a vizinha, acertar que horas ela voltaria pra buscá-la.Sophy e Isadora não se desgrudavam por um segundo sequer, olhares intensos, abraços apertados, mãos dadas... aquilo parecia um sonho. Estavam na praia, sentadas na areia com a água tocando seu pés. Mas o dia acabou e elas precisavam ir embora. Por volta das 17:30, elas se despediram e combinaram que fariam o possível pra se ver novamente à noite. Luíza, ajudando novamente, levou Isadora para que se encontrasse com Sophy e, durante 40 minutos, ficaram juntas novamente na praia, sentindo o vento frio. Conversaram sobre tudo. Sobre como fariam dali por diante pra se ver, sobre como aquilo estava sendo inacreditável e maravilhos, sobre o quanto não queriam sair dali jamais. Falaram sobre todo o sofrimento de quando estavam distantes e sobre todas as coisas possíveis e necessárias. Como sempre o tempo voou e logo precisavam ir embora.
A tão esperada segunda-feira chegou. Depois de muito tempo, Sophy voltava a Niterói onde estudava.. e onde morava Isadora. Daquele dia em diante, começaram as preocupações de como iriam se ver, ou se a maneira que combinaram daria certo; mas tudo foi se organizando. Logo, Luíza mais uma vez estaria lá pra ajudar. Isadora estava sozinha em asa com o pai, pois sua mãe havia ficado em Santa Cataria. Cristiano, o pai, trabalhava durante a manhã e só voltava depois das 13h. Sophy saía da aula ao meio dia e tinha até 12:40 pra chegar em casa, se usasse o trânsito como desculpa, então Luíza e Isadora buscavam Sophy na escola e, perto das 12:40, a vizinha a levava ao ponto.As coisas foram correndo desta forma, até que Ana, mãe de Isadora, voltasse pra casa.
Depois que Ana voltou, as coisas se complicaram um pouco. Sophy não podia ir à casa de Isadora e ela não tinha permissão pra sair... elas se viam quando surgia um motivo, uma desculpa para que Isadora tivesse que ir à rua. Mais ou menos 30 dias se passaram desse jeito; Isadora não podia sair, Sophy não ia a Niterói pra outra coisa além da escola e do curso. Foram tentando dar um jeito até que Isadora teve uma discussão com a mãe. Disse que não queria mais mentir nem omitir qualquer coisa, que ela e Sophy se viam e sua mãe sabia, que ela faria 18 anos em breve e que os pais não tinham o direito de impedi-la de ver Sophy. Ana não entendeu muito bem tudo aquilo ou, se entendeu, não deu ouvidos. Simplesmente não aceitava, mas não a proibiu mais. Dali em diante, Isadora começou a reconquistar sua liberdade e, embora tivessem pouco tempo, quando a aula de Sophy terminava, ela já estava plantada na porta do colégio esperando.Com o tempo, Sophy também conseguiu permissão pra sair, depois das aulas à tarde... elas conseguiam se ver com mais tranquilidade.. com mais frequência. As coisas foram voltando ao seu lugar; Sophy e Isadora estavam cada dia mais perto de uma felicidade tranquila, porque mesmo com tudo aquilo, conseguiam se sentir completas por pertencerem uma à outra, por saber que sempre estariam ali. As coisas só melhoravam, seus pais começavam a "abrir a cabeça" e com toda certeza elas lutariam até o fim para serem, não só aceitas, mas apoiadas por eles.
Da autora desse conto, fica aqui uma mensagem para pais de homossexuais: Os seus filhos, mais que nunca, precisam de vocês. Eles já têm o mundo para enfrentar e vocês vão deixá-los desamparados, desesperados e sozinhos para enfrentar, além de tudo, vocês mesmos? Orientação sexual não é escolha, simplesmente acontece. Seu filho não é um doente, nem faz isso por pirraça, nem qualquer outra coisa que os pais costumam pensar. Tudo o que vocês fazem na vida é pra eles, para seu filhos, para que eles tenham um bom futuro e possam ser felizes. Então, aceitem essa felicidade do modo que eles sentem. Cada pessoas se alegra por um motivo, isso é fato. Algo que te deixa bem, talvez não faça tanta diferença pra sua esposa, mas ela ficará feliz porque você está. E assim são seus filhos, é o jeito que eles são e por isso é como eles devem viver. E você deve saber que seu filho não está sofrendo.

Está em paz.
Está feliz!

OBS: Essa historia é real com nomes fictícios, enviada por uma de nossas leitoras.
Muito obrigada por sua participação!

Equipe

3 comentários:

  1. o conto é bonito *-*
    queria que a minha história fosse assim, ou que ela termine assim pelo menos
    meus pais tao a um ano na fase do prender em casa :/

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  2. mas a história do conto, estacionou, ainda tá tenso...
    não está tudo em paz, ainda.

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  3. Muito linda a hist... as dificuldades enfrentadas foram muitas,mais existe amor e é exatamente issu que fez com que essas 2 jovens mesmo com essa tempestade que viveram continuassem juntas msm que distantes por um tempo. Parabéns ao pontoL, o blog ta ficando cada dia melhor

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