domingo, 22 de agosto de 2010



Vim falar a verdade, que começa com uma bobagem.

Eu abandonei o receio há algum tempo e hoje vivo daquilo que acho certo. Minha sexualidade muito bem definida é uma prova dessas coisas certas em minha vida. Olho-me no espelho e muitas vezes não sei quem sou, mas me reconheço numa lembrança que o tempo nunca conseguiu apagar.

Aqui dentro, bem aqui dentro de mim, pulsa um coração que anseia por pessoas, dias, sentimentos e momentos melhores. Sou alguém que não se convence rapidamente e tampouco é de dar explicações. Percebo uma enrolação de longe e é algo que me irrita!

Uma das metas deste blog é diversificar. O que é diversificar? Ser diferente? Abrir espaços para o que não se vê por aí? Abrir um leque de opiniões sobre o mesmo assunto? Talvez seja isso e muito mais. Acredito que vamos mais além quando dedicamos nosso tempo a expor idéias aqui. Escrevo com verdade e procuro colocar emoção em tudo, quase nunca sendo apenas racional. A racionalidade não camufla os sentimentos que querem ser expostos, então prefiro não ser racional. Ao me emocionar, sou mais autêntica.

Esta semana uma conversa com a minha mãe me fez apelar para o meu lado lógico (sim, ele existe), mas fiz questão de transformá-lo em sentiimento. A discussão se transformou em debate, depois virou confusão, acabou em pizza e isso me desagrada profundamente. E é um direito meu me sentir assim.

Eis o assunto da conversa: O que é ser lésbica?

Supostas resposta/dúvidas: Amar mulheres? Amar mulheres faz de você uma lésbica?... Hmmmm... Desejar mulheres? Desejar mulheres faz de você uma lésbica?

Afinal, o que é ser Lésbica?

O que é ser lésbica e o que nos classifica como tal?

Na adolescência, quando me vi apaixonada pela minha melhor amiga, pensei ser lésbica. Confesso que foi um amor platônico, mas que abriu portas para vários questionamentos.

Senti-me perdida, num beco sem saída... A solução mais cabível pra mim naquele momento foi me isolar. Precisava de tempo pra mim. De tempo pra me entender. Não precisava de experiências com homens pra saber que eu gostava de mulheres ou pra saber se aquilo não era apenas uma fase. Claro, como nada é regra, cada uma é cada uma e escolhe os caminhos a serem percorridos.

Meu caso era assim: uma mulher havia mexido comigo de um jeito tão diferente que nenhum homem jamais havia conseguido igual. Gostava de admirá-la e isso era instintivo e natural. Sentia-me bem em sua companhia, adorava seu andar gracioso e seu cheiro enebriante, que arrepiava até os cabelos de onde eu não os tinha.

Um dia pensei: "será que sou lésbica?"

A princípio, aquilo me pareceu um absurdo sem tamanho. Eu me puni, chorei, quis gritar, fiz tudo e sofri calada. E assim foi até que eu percebi que não se manda no coração, na mente e, principamente, no corpo. Finalmente me acalmei, mas demorei muito pra aceitar.

Numa bela noite de lua cheia, quando beijei pela primeira vez uma mulher, percebi que eu era uma idiota completa! Havia passado anos da minha vida me torturando com a idéia de apenas desejar ser tocada e tocar uma mulher, algo tão simples e assutador. E quando aconteceu, experimentei a melhor sensação que já tive até hoje: um coração adolescente disparado, medroso, palpitante, ansioso... Mãos geladas, peito quente, boca seca e aquele beijo... O tão esperado toque dos lábios, bocas se encostando com nervosismo, dedos das mãos se entrelaçando, corpos se encostando, desejo sendo realizado. Infelizmente, como nada dura pra sempre, acabou. Mas aquela sensação jamais me abandonou.

Que sensação era aquela, meu Deus? Como pude pensar que aquilo era algo sem nexo, sem propósito?

Foi ali que me descobri lésbica. Não por amar uma mulher em segredo. Não por poder tocá-la. Por nada disso, mas sim por ser quem eu queria ser. Por ser eu mesma... Completa, entregue e realizada!

Ali foi minha descoberta, minha realização. Ali me conheci e, desde aquele momento, soube quem eu era: uma mulher comum! Uma mulher lésbica comum, como qualquer outra mulher, lésbica ou não. Apenas uma mulher cheia de sonhos, desejos, receios e vontades. Pude ser livre quando me aceitei e quando enxerguei que o preconceito não vinha de fora, mas de dentro de mim. Eu não me permitia sentir todo o que eu queria, não me permitia ser eu mesma. Não achava certo e não cabia dentro de mim amar um ser que é exatamente como eu. E foi assim que me dediquei a conhecê-la, a decifrar seus desejos, seus truques, suas manhas e charmes. Deparei-me com algo inacreditável, com algo que amei toda a minha vida. Ali, bem diante de mim, estava alguém tão igual e que provocava em mim coisas sem limites, sem fronteiras. Permiti-me por completo querer tudo que sempre quis e quero. O tempo passou. Hoje sou adulta, bem resolvida com a minha sexualidade, mas dentro de mim ainda mora aquela menina que tinha medo de se entregar. Ela ainda quer a mesma coisa: amar uma mulher, com suas qualidades e defeitos. Apenas amá-la, sendo quem sou!

Sou lésbica, sim. Esse é o rótulo que me deram por amar outra mulher. Aceito-o e me orgulho por ele, mas antes de tudo sou uma mulher que não é diferente de nenhuma outra.

Sou lésbica e me orgulho disso. Digo em alto e bom tom: Eu amo as mulheres, seu apelo, suas fantasias,
seus desejos, suas brincadeiras e toda a sua insanidade. E isso não me torna diferente de ninguém.

Eu sei quem de fato sou!


Equipe
ps.: O texto foi enviado pra nós por uma das nossas amigas! Obrigada!

2 comentários:

  1. adoreeeei *-* "Sou lésbica, sim. Esse é o rótulo que me deram por amar outra mulher." minha parte favorita! Muito bom mesmo, parabéns pra quem escreveu xx

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  2. Parabéns pra quem escreveu, realmente, muito bom! *-*

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